segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Vivendo e esquecendo

Li um texto tempos atrás interessante que me fez refletir. Tudo o que eu leio e releio é porque me faz pensar. Pensar de alguma forma sobre aquilo. De que forma lidar com aquilo, de que forma aprender com aquilo e de que maneira aquilo poderá fazer com que eu compreenda melhor as pessoas e o mundo que me cerca.
O texto falava sobre aprender a esquecer.
O filho precisava entregar o bico para o Papai Noel e o entregou. O Papai Noel foi embora e chegou a hora de dormir. O bico. Ele precisava do bico, mas não o tinha mais. Então ele olha para o pai com o rosto cheio de lágrimas e diz:
- Pai, me ensina a esquecer?
Esquecer muitas vezes é dolorido, mas necessário, porque a vida é feita de perdas. Perdemos tanta coisa que nem sei... infância, amores, pessoas queridas. Perdemos o juízo e até brinco no mar. Quantas duras e irreparáveis perdas.
Mas elas muitas vezes nos fazem crescer e amadurecer. As perdas nos fazem enxergam além do perdido.
Por algum motivo foi perdido. E algumas perdas não voltam mais. Simplesmente não voltam. As vezes lutamos para trazer o perdido, mas o melhor é que aprendamos a lidar com elas.
Nunca me esqueço do dia em que meu médico virou para mim, depois de olhar meus exames, meus péssimos exames, suspirou e disse:
- Carolina, é uma derrota para eu te dizer isso.
A sala ficou em silêncio, dava para ouvir as batidas do nosso coração.
- Você perdeu o rim transplantado da sua mãe. E começa hemodiálise semana que vem.
Eu devaniei por alguns segundos tentando internalizar aquilo que me estava sendo dito e depois de um tempo comecei a chorar. Não era um choro qualquer, era o choro desesperado de uma perda irreparável, de algo que não voltaria mais. Nunca mais. O rim que me foi doado pela minha mãe, minha alma gêmea, estava agora dentro de mim sem vida.
Como esquecer isso? Como lidar com essa dor? Com essa perda?
Não foi fácil. Doeu mais que cortar o dedo com papel. Mas eu aprendi a esquecer. A vida me ensinou a esquecer. E a seguir meu caminho. Minha trajetória. Me ensinou também o que significa dor e superação.
As vezes precisamos esquecer pessoas, coisas, sentimentos.
E guardar as boas lembranças.
As vezes faz bem. Fortalece o corpo e a alma.
É bem assim mesmo.
As vezes é bom esquecer.