terça-feira, 11 de março de 2014

Para que serve um dez?

Um choro hoje me sensibilizou. Pegar meu filho na escola e o encontrar chorando não é normal. Não é normal para uma criança ativa que quer sempre ser a última a ir embora de tudo, principalmente da escola e das festinhas. Ele é quase sempre confundido com o aniversariante das festas, porque a animação é tão grande que até eu às vezes me confundo. Ele gosta de todos, brinca, pula, pinta, joga, luta, ri. Uma vez uma professora do maternal me perguntou "Como é o João Marcelo? Me fale um pouco sobre ele". Bom, eu sou meio mãe coruja daquelas que grita nos jogos e nas lutas dele, eu acho ele o máximo, lindo, querido, meio teimoso....mas eu iria ficar horas falando dele e não tínhamos tempo para isso, infelizmente. Então olhei para ela e disse. "Ele é intenso. Em tudo o que faz". E já nas primeiras aulas ela me encontrou no pátio e me disse " entendi o que você quiz dizer aquele dia". Gosto de quando falo a mesma língua da pessoa ouvinte, uma questão de empatia, que infelizmente não temos com todos. E nem todos tem essa capacidade de ouvir. Mas aquela professora tinha.
E ele realmente é muito alegre, e encontrá-lo chorando na escola foi para mim uma surpresa. Ele não queria olhar para mim, uma vergonha e um choro sentido. Um sentimento diferente estava dentro dele. E aí eu percebi algumas crianças saindo felizes com um papel na mão. Lembrei da prova. A prova de Matemática. Ele deve ter recebido a prova. E ele tinha me falado que não tinha ido bem. Fui correndo ao encontro dele porque coração de mãe não falha. E eu ouvi:
- A prova mãe, me desculpe. Por favor me desculpe mãe.
A minha reação foi tão rápida e eu não deixei ele terminar, abracei-o como se há anos não o visse.
- Não me peça desculpa por isso mais tá? Vamos almoçar?
-Sim, mas a prova mãe, eu quero esquecer essa prova.
A velha e sempre história de esquecer....tarefa difícil essa. E dolorida.
Mas como as crianças estavam em volta dele, uns querendo consolá-lo e outros mostrando a sua nota (a deles), mães felizes, e eu resolvi tirar ele daquela situação e levá-lo para casa. Aos prantos. Ele estava aos prantos.
A conversa em casa não foi longa, mas suficiente para que ele entendesse o que eu estava tentando lhe dizer. E o quanto eu queria que ele carregasse as minhas palavras para a vida adulta dele. Para o resto da sua vida, sendo bem sincera.
Que ele ainda é criança, nem pré, nem pseudo, nem quase, nem nada de adolescente. Ele ainda é felizmente uma criança. As responsabilidades existem. Mas só se é criança uma vez na vida. Nunca mais. A vida segue, crescemos, nos tornamos adultos. E envelhecemos. A nossa essência, aquilo que somos continuará sempre a mesma, desde criança, mas as nossas atitudes e a nossas as responsabilidades mudam com o tempo. E como mudam.
E ele já têm muitas responsabilidades, acho que até demais, mas elas por algum motivo, precisam existir. As crianças precisam de responsabilidades em casa, na rua, na escola. Em qualquer lugar. De rotina. De horário. De limites, principalmente de limites. Mas mesmo assim enxergo ele como uma criança. E criança na minha visão tem que brincar. Tem que aproveitar a infância. Dá pra conciliar com as responsabilidades sim. Mas nessa fase, menos apostilas e mais brincadeiras. Mais esconde esconde, mais piscina, mais pés descalços, mais video game (porque não, na medida certa faz bem à criança), mais bola, mais boneca. Mais diversão.
E tirar uma nota baixa significa frustrar-se. E frustração faz parte da vida. Nos decepcionamos, tiramos notas baixas, sofremos por amores passados, caímos, mas levantamos depois. A vida segue.
Eu não quero que meu filho seja o primeiro da sala, o mais inteligente, o que tira as melhores notas. Eu quero que ele saiba que a vida é feita de alegrias, de momentos divertidos, mas também de perdas e frustrações. E temos que ensiná-los a lidar com esse turbilhão de emoções e sentimentos.
Não quero que ele tire dez nas provas. Pra quê? Pra que serve um dez? Pra mostrar inteligência e sabedoria?
Ou será que a nota é mais para os pais do que para os próprios filhos?
Para ser alguém na vida você não tem que ficar tirando dez meu filho, você precisa internalizar que o estudo é muito importante e quem sem ele você dificilmente conseguirá algo de sucesso. E queremos que nossos filhos tenham sucesso. Queremos ter orgulho deles. Mas que antes disso tenham uma infância digna de uma criança.
Os ídolos do meu filho, até por ele amar esporte são o Le Bron James e o Aaron Rodgers. Pena que ele não conheceu o Senna. Talvez seria seu ídolo, como é o meu. Mas ele admira esses em especial, observa seus movimentos, como jogam, e como são disciplinados. E de onde eles vieram? De universidades. Sem estudo, meu filho, eles não chegaram onde estão. Precisaram estudar. E muito.
Mas para que você chegue lá tem muita água para rolar. E eu prefiro ainda ficar gritando teu nome na arquibancada como uma doida e quase tendo um ataque cardíaco cada vez que você vence por Ippon ou perde um gol.
Prefiro ficar gritando do que te ver em uma mesa de escrivaninha debruçado sobre livros a maior parte do tempo.
Que seja o Pequeno Príncipe então. Será teu próximo presente.
Mas mesmo assim prefiro torcer por você nas quadras, não nas provas.
Orgulho de você.
Que quase não cabe dentro de mim.