sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Quem fica

Algumas pessoas partem de nossas vidas. Simplesmente partem.
E sem a gente saber porque. Difícil entender isso. Num piscar de olhos, não estão mais alí. Nos aconselhando, nos ouvindo, nos criticando. Onde estão? Porque foram embora?
A vida muitas vezes é dura, mas nos faz ao mesmo tempo entender o porque de tantas coisas, de tantas perdas.
Como lidar com a ausência de alguém querido, tentar compreender o fim de uma amizade, ou de um amor que parecia ser para o resto da vida...
A vida é feita de ganhos e perdas. Mas porque perdemos?
Talvez as pessoas perdem a graça, o encanto. Talvez cumpriram sua missão. Talvez não falamos mais a mesma linguagem. Não temos mais os mesmos gostos, os mesmos prazeres.
Simplesmente perdeu a graça.
Por um determinado motivo, que lá na frente vamos descobrir, não tínhamos mais sintonia.
Não tínhamos mais aquela coisa que nem a gente sabe explicar. Aquele frio na bariga, aquela vontade imensa de ligar, de estar junto.
Dizem que os opostos se atraem. Eu acredito que para termos amigos, amores, familiares por perto precisamos ter algo em comum. Nem que seja gostar de comer goiaba no pé.
Agumas pessoas com tempo perdem o brilho. Aquela vontade de viver, de continuar a sua trajetória, de agradar, de querer bem. De olhar olho no olho. De dizer eu te amo.
Algumas pessoas vão deixando as coisas morrer aos poucos.
E tudo vai morrendo junto.
Porque nos separamos de alguém?
Pergunta difícil...
E a resposta mais ainda...
Não era para ser. Não eram para permanecer em nossas vidas. Não precisamos estar rodeado de tantas pessoas. Basta estar perto de quem nos faz bem. De quem nos quer bem. De quem não perde a graça.
Por algum motivo partiram. A dor fica, mas também se cura, como um corte de papel na mão.
Porque a gente muda sim. E os nossos sentimentos e emoções também.
Um dia a gente sente raiva. Depois essa raiva vai se transformando, mudando, se remodelando, até que acaba em indiferença. Para mim, é o pior dos sentimentos, mas a indiferença as vezes é necessária. Para nossa proteção. Nosso bem. Físico e mental.
A alma agradece.
Alguns partem, sem a gente querer. Sem a gente perceber e entender.
Mas partem.
A parte boa é que muitos ficam.
E alguns, ficam para sempre.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Luxo

Depois de tantas lambadas da vida, as vezes me pergunto sobre o real sentido da palavra luxo.
Ontem, aguardando anciosamente meus exames, me peguei pensando nisso.
Meus exames. Que coisa, um monte de informações e números que iriam chegar por um telefonema da minha médica. E ela iria me dar o resultado. Fiquei sem dormir. Um certo exagero?
Não sei. Imagine esperar anciosamente por uma ligação que não chega. O telefone simplesmente não toca.
Imagine.
Mas é assim mesmo. Surge o medo. O inesperado. O improvável. O desconhecido.
O medo de voltar para a hemodiálise. O medo de ficar sem tomar água. O medo de acordar as cinco da manhã e ficar quatro horas presa em uma máquina. Exagero? Talvez. Mas passa tanta coisa pela cabeça.
Nossa mente é uma formiga no meio de um bolo.
E o telefone toca. Meus exames. Minha médica. Os números. O tão aguardado resultado.
Atendo? E se estivessem ruins? Toca novamente.
Mas eu sou forte e guerreira como sempre fui. É assim que as pessoas me chamam. Claro que eu iria atender.
O coração saindo pela boca e escalando o Everest.
E eu escutei uma voz doce e feliz.
O rim que ganhei de meu irmão está forte, seguro e funcionando. Era para ser meu. Tenho certeza disso.
Quer luxo maior do que receber esse telefonema depois de uma ansiedade gigantesca que quase tomou conta de mim?
Chegar em casa cansada e ver que tem um pudim de leite maravilhoso te esperando. E  o melhor, poder comer sem culpa. Poder comer tudo o que se quer. Tudo o que tem potássio, fósforo, sódio. Toda a tabela periódica.
Tomar um copo de água. Até dois. Hoje eu posso.
Luxo para mim hoje, nada a tem a ver com coisas relacionadas a dinheiro. Mas sim com sentimentos, emoções. Troca de energia. A não ser viajar. Essa sim é a única coisa que compramos e nos enriquece. E nos enobrece.
Luxo é passar um final de semana sem celular tocando, carros buzinando e mil pessoas falando.
É tomar uma xícara de café em uma varanda.
É ter uma vida digna.
Ter saúde
Ser do bem.
Vestir uma camisola cheirosa.
Passar Giovanna Baby.
Ver o filho crescer.
Recolher um animal de rua.
Escrever um livro.
Fazer alguém sorrir.
Luxo é dormir com a consciência tranquila.
É despertar feliz, mesmo sabendo que o dia será difícil e que os problemas ainda estarão lá.
Luxo é conseguir encontrar alegria nas pequenas coisas da vida.
Luxo é se olhar no espelho e gostar do que se ve.
É gostar de ser quem a gente é.
Sem querer ser ninguém diferente.
Diferente de quem a gente mais tem que amar e admirar.
A gente mesmo.