quarta-feira, 3 de abril de 2019

Sobre partir

Em algum momento da minha vida já tive vontade de partir. De arrumar a mala. Colocar algumas saias. Meus remédios de transplante. Talvez um vestido de tule. O meu preferido. Tudo com cabide, bagunçado igual cena de novela. Aquela vontade de arrumar uma mala em dois minutos e levar poucas coisas. Eu levaria também minha maior riqueza, meus sentimentos e toda a imensidão de Carolinas que habitam dentro de mim. Certamente deixaria para trás algumas decepções e frustrações. E aquela Carolina tão ansiosa e cheia de manias.
Deixaria também algumas pessoas para trás. De alguma maneira entraram em minha vida, me ensinaram. Outras me libertaram. Algumas julgaram. E poucas ajudaram. Eu deixaria talvez alguns na próxima estação e me despediria. E um muito obrigada por tudo. De alguma maneira foram importantes. Ser grata me enobrece. Gratidão é coisa séria. É sentimento grandioso que não cabe em quem pensa pequeno.
Mas que bom se fosse assim. Deixar todos os problemas para trás e partir rumo ao desconhecido.
Sim, eu já tive vontade de arrumar as malas. Uma sacola talvez, porque  certamente voltaria para buscar outras coisas ou outros alguéns. Eu sei que voltaria.
Talvez partir. Talvez ficar.
Algumas pessoas me perguntam porque ainda não fui morar fora do Brasil. Nova York seria uma ótima ideia. Londres. Paris. Que o melhor lugar para se morar é o Canadá.
Para quantos lugares poderíamos partir. Quantos lugares existem nesse mundo e com certeza arrumaríamos um cantinho para chamar de nosso e então quem sabe recomeçar do zero. Sem remorço, nem dívidas.
Longe de problemas e problemáticos.
Que vontade imensa eu tinha de arrumar as malas.
Mas talvez o melhor lugar para partir seja pequeno e belo. E nele cabe tudo. E tanto.
O melhor lugar para partir é aquele onde me reencontro comigo mesma. É  um lugar profundo, mas o único que certamente sempre me acolherá. E saberá que caminho me guiar.
Nada adianta querer partir se aqui dentro não se sente. Não se exala. Não brota. Não renasce.
Não liberta.
Nenhum lugar do mundo preencherá o vazio de um coração partido ou de uma alma perturbada. Nada nesse mundo substitui a essência magnífica em ser quem se é. Aceitando-se e reencontrando-se. Descontruindo-se e florindo a cada estação do ano.
A fuga traz um alívio temporário.
Pensando nisso, decidi não querer mais partir. Decidi seguir em frente. Decidi ficar e me reencontrar. Comigo mesma.
É aqui dentro que se mora. É aqui dentro que se resolve. É aqui que se reencontra.
É aqui que se tem todas as respostas.
Sendo quem se é, nunca negando, mas sim transformando.
Aceitando, renascendo.
Libertando.