quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Borboletas

As vezes o que a gente precisa nessa vida é um pouco de paciência, entendimento e muita, muita sabedoria.    
Não é fácil lidar com mudanças, transformações. O novo é sempre algo misterioso, incerto.
 Mas o jeito é enfrentar. E muitas vezes, aceitar.
Mudar a cor do cabelo, a rotina, a escola do filho. O endereço. Ou a cidade. Mais fácil de resolver.
Mas a mudança e a transformação talvez mais difícil é quando nos damos conta de que alguém ao nosso lado está mudando.
Algo sutil, suave, lento, mas está alí. Você sabe que está alí. E que a única coisa que se tem a fazer é continuar fazendo exatamente aquilo que acredita que deve ser feito.
Ser mãe é talvez uma  das experiências mais gratificantes, puras e mágicas que o mundo criou e nós damos continuidade.
Ser mãe é algo um pouco indescritível. É pura e simplesmente amar. Amar de forma tranquila e serena.
Por isso o amor se difere da paixão. A paixão é explosiva, intensa e limitada. O amor não. 
E simplesmente o classifico como o que sinto pelo meu filho. Calmo e generoso. Duradouro. Eterno.
Como mães, as vezes nos deparamos com situações novas e corriqueiras. Aquela coisa do dia a dia do filho. Os cadernos estão com corações, de todos os tipos e cores. Nomes aparecem. Geralmente dentro dos corações. O olhar muda. A maneira de falar. De agir. De pensar.
O telefone toca mais. Bilhetes. Cartinhas. Festinhas. Desenhos. E corações. Aqui em casa são corações. E muito amor descrito. Os sentimentos colocados de maneira minuciosa no papel. E eu sou chamada para ler. E palpitar. E ter que decidir. Me tornei juíza nas horas vagas.
Olhando para essas novas transformações em nossas vidas, essas mudanças, esse turbilhão de sentimentos, emoções, eu sinto uma dorzinha lá no fundo. Uma pontada que vem. Mas que vai. E tem que ir.
Meu bebê cresceu. Está se tornando um homenzinho. Ainda é criança, mas agora é a fase das descobertas. Das paixões, das desilusiões. Dos choros. E felizmente, ainda das brincadeiras.
Sabe, uma coisa meio tumultuada. Um mar de informações e descobertas.
Quando a gente se torna mãe, a gente sabe lá no fundo, mas bem lá no fundo, que um dia, um longo e distante dia, eles não serão mais nossos. Serão do mundo. Seguirão seus caminhos. Suas escolhas. Seus amores. Seguirão o seu destino. A sua trajetória de vida.
Quando ele era bebe, me diziam para não levá-lo para minha cama, para não mimá-lo, com o agravante de que é e será eternamente filho único. Como se isso fosse um agravante.
Nosso único filho. E único em nossos corações.
Sabedoria é saber lidar com toda essa bagunça temporária. Esse tsunami que vem, permanece por alguns instantes. Mas que passa e vai embora como uma tempestade.
E tudo na vida passa. Por mais que doa. Mas passa.
Como mãe, me sinto profundamente grata por estar criando um ser que se descobre, se manifesta,  se dedica, se declara. E que acima de tudo, pensa no outro.
Eles vão crescer. E talvez um dia partam.
Mas enquanto isso não ocorre, a gente vai rindo, chorando, respirando fundo, rezando.
E acima de tudo abraçando-os todos os dias. Elogiando-os, trazendo-os para dormir conosco de vez em quando.
Ah! Como é bom. Acordar e sentir o cheirinho de alguém que saiu de dentro da gente. Ou não. Alguém que caiu no nosso colo e com o primeiro choro já queria dizer, "mãe eu te amo".
A gente sabe que um dia irão trilhar seu futuro, seus caminhos. Virarão borboletas.
Mas a nossa sabedoria está justamente nesse ponto.
Fazer com que as borboletas sigam seu caminho e que o jardim de casa esteja sempre aberto. E cheio de amor para recebê-los.
- Mãe posso dormir com vocês hoje e que tal asistirmos um filme?
- Claro filho, esse quarto, essa casa e o nosso coração estarão sempre disponíveis a você. Você será sempre o nosso eterno bebê.
- Tá bom mãe, mas fica entre nós, ok?
E assim a vida segue. Entre erros e acertos, sigamos com nosso extintos, sem rotular, sem julgar, nem culpar.
 Apenas ensinar e tentar com a nossa experiência de vida mostrar um caminho seguro e correto.
Vamos viver o hoje.
Porque os filhos partem.
E as saudades ficam.