domingo, 28 de junho de 2015

Melancolia

Mesmo que tentamos, mesmo que queremos, não conseguimos ser felizes vinte e quatro horas por dia. Sete dias na semana.
Bom se fosse. Todo mundo seria feliz, alegre, sorridente. Bem como diz Vinícius de Moraes : "É bem melhor ser alegre do que triste."
Só que com o turbilhão de meteoros caindo sobre nossas vidas diariamente, fica difícil evitar, resistir ou esconder um estado de tristeza. É o filho que fica doente, o dia chuvoso e cinzento, as perdas e as pedras em nosso caminho.
A tristeza é inevitável. O estado de melancolia é sugestivo quando nos encontramos tristes.
E é na tristeza, mesmo sendo algo um pouco incompreensível, é que conseguimos muitas vezes reagir e voltarmos a ter estados de alegria.
Evitar a tristeza ou maquiá-la é produto da sociedade moderna. Nunca se vendeu tanto anti depressivos como hoje em dia. Mas, claro, cada caso é um caso. Eu sofri de melancolia profunda na Hemodiálise e ela se transformou em depressão. Então o melhor é procurar ajuda profissional.
Mas a melancolia, a tristeza a qual me refiro tem a ver muito com a cobrança que sofremos diariamente. Como se tivéssemos que ser felizes, termos famílias felizes, filhos felizes o tempo inteiro. Sabemos que isso, em tempo integral é impossível.
Até porque, é nos momentos de tristeza que conseguimos refletir. E tentar entender e compreender do porquê se está triste. É talvez o momento de nos olharmos. De enterdemos nosso eu. Nosso corpo e nossa alma. Esse é o momento crucial para voltarmos para si.
Evitar a tristeza virou obsessão, mas é através dela que nosso me mecanismo psíquico nos dá oportunidades de buscarmos soluções.
Pesquisas feitas recentemente mostram que as redes sociais têm causado mais tristeza do que alegria nas pessoas.
Fotos de viagens, lugares paradisíacos, aquele buquê de flores que você não esperava ganhar. Aquele domingo feliz onde a família está reunida e todos sorrindo felizes...
Eu adoro redes sociais e posto fotos sim. De diferentes tipos e lugares. São momentos felizes. Mas eu e outras tantas pessoas que postam coisas alegres, bonitas e felizes, lugares incríveis, também têm momentos de tristeza. Somos humanos.
Ter uma rede social para postar fotos de enterros, pessoas chorando e vídeos de violência não nos leva a lugar nenhum. Basta ligar a televisão. Muito melhor postar coisas boas, engraçadas, frases que nos façam refletir. Assim passamos energia boa para a pessoa do outro lado. Passamos luz.
Escuto muito falar em inveja. Mas não acredito nisso. A inveja, se existe, só faz mal a quem a sente.
Cada foto que vejo de um momento feliz de alguém ou de uma viagem fico feliz. Às vezes é como se viajássemos com a pessoa.
Vamos olhar para o outro, para imagens, textos, para as nossa angústias e tentar entendê-las.
E sem julgar o próximo, tentar ser feliz. Com o que temos. Com aquilo que somos.
Olhar para si e tentar novamente.
Os momentos de melancolia aparecerão.
Mas estar feliz com certeza é bem melhor do que estar triste.
E termino com uma frase que desconheço o autor:
"Aprendi que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito".




quinta-feira, 18 de junho de 2015

Gratas surpresas

Não amanheci bem naquele dia. Estava me sentindo feia e inchada. Cheia de canos e carrinhos sem fim. Mas o rim transplantado estava perfeitamente funcionando. E eu mentalizava isso para  progredir. Para me ajudar. Para elevar minha auto estima.
Eis que alguém bate na porta. Eu estava sozinha naquele momento.
- Com licença. Como está Carol?
Meu cirurgião...
- Bem...estou cansada, inchada, não tenho apetite. Minhas costas doem de ficar deitada. Não posso sair do quarto, minha imunidade está muito baixa. Tenho saudades Dr.. Da minha casa, minha cama, do meu filho, minha cachorra. Tenho saudades da minha vida. Do meu lar.
A minha auto estima estava péssima.
- Quantos dias fazem que você internou?
- Vinte e dois.
- Por que você não pede uma autorização para seu filho vir te ver?
- Não quero que ele me veja assim Dr.!
- Pois eu acho que vai ficar impressionado sim, mas vai ter uma imagem ainda mais forte da mãe guerreira e lutadora que ele tem. Ele só tem motivos para ter orgulho de você!
E as minhas lágrimas pularam, molharam a minha camisola. Solucei como há tempos não fazia.
- Não vou te dar um abraço porque não posso chegar perto de você. Mas pense no que te disse. E tudo vai dar certo. Acredite.
E se foi. Fechou a porta e levou consigo toda aquela esperança, aquela alegria contagiante, aquele bom humor. 
Meu marido veio para dormir comigo e de manhã acordei um pouco melhor. Já esboçava um sorriso. Tirei a camisola do hospital e coloquei uma camisola azul turquesa. Que eu desenhei e minha costureira fez para mim. Era linda, delicada. Arrumei o cabelo e passei um batom.
Saí do banheiro e meu marido faz aquela pergunta:
- Aonde vai bonita assim?
- Vou deitar na cama e esperar o café. É o que me resta.
E começamos a gargalhar. Da situação. Do meu mal humor (coisa que não me pertence), de eu esperar sempre pela comida. Era a única coisa diferente que acontecia. E esperava também a novela Salve Jorge. Não perdia um minuto do Theo e da Morena. Dois chatos, mas eu torcia por eles. Torço sempre pelo amor no final.
Terminei meu café, coloquei minha máscara e fiquei deitada. Pensei no meu filho novamente. Meu coração sangrava por dentro. E comecei a falar com meu marido sobre a idéia do médico.
E a porta bate:
- Bom dia Carolzinha...nossa aonde vai bonita assim?
Minha médica clínica.
- Ai Dra. eu posso estar tudo, menos bonita.
- Você quer ir para casa?
Aquilo parecia meio surreal, sei lá, demorei para internalizar aquela frase.
- Carol, seus exames já chegaram e está tudo perfeito. Chegou a hora. Você vai voltar para casa.
Dia 10 de novembro de 2012 eu voltei para casa. Não podia abraçar ninguém, muito menos pular, mas estava voltando a ser a Carolina que só eu sei que existe. E isso me fascinava.
Arrumamos tudo. A enfermeira tirou todos os acessórios que enfeitavam meu braço. E partimos.
Na saída do quarto avistei as enfermeiras e chorando, me despedi. Agradeci a todas, mesmo sem poder tocá-las. Sei que sentiram a minha energia.
E voltamos para casa, rumo ao meu refúgio, ao meu lar. 
Pedi no caminho, para meu marido, que quando fosse buscar nosso filho na escola não falasse que eu iria estar em casa. É uma surpresa.
Ele chegou da escola, todo sujo, normal para uma criança de 9 anos. 
-Filho, vamos trocar de roupa e lavar bem o rosto e as mãos, com sabão hein?
- Tá bom pai, mas porquê?
- Você já vai ver.
E eu estava escondida no lavabo da sala, cheia de dor, louca para sentar no sofá. Mas estava feliz. E era isso que importava. Só isso. Nada mais.
Quando ele desceu as escadas, sentou na mesa para almoçar. Minha mãe estava junto. E eu apareci. 
-Mãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaae!!! Você voltou! Agora nossa família está completa de novo.
Eu não conseguia falar muito, mas meu coração conseguia sentir. A maior alegria da minha vida. Reencontrar quem eu mais amo nessa vida. Alguém que lutou bravamente para nascer no meio do caos. Meu lutador de judô preferido. Palmeirense fanático.
Logo estou nas arquibancadas gritando teu nome.
Orgulho de você filho. De você e da nossa família...
Que quase não cabe dentro de mim.

sábado, 6 de junho de 2015

Partir

As vezes é preciso partir.
Parto porque necessito de outras estações, de outros cheiros, de outros mundos.
Parto porque necessito conhecer outras flores, cores. E outros sabores.
Saio para descobrir novos ares. Descobrir novas pessoas. Parto para sair de mim rumo ao desconhecido.
Me torno plenamente feliz quando me desentegro de mim mesma e busco descobrir uma nova face. A qual busco conhecer.
Parto porque algumas roupas não me servem mais, algumas pessoas não me interessam mais. Já não falamos mais as mesmas palavras. Não temos mais os mesmos gostos. E quando perde o sabor, o cheiro, o encanto, é preciso partir.
Parto porque quero conhecer o mundo. Um outro mundo. Um novo mundo.
Tirar novas fotografias. Milhares de fotografias. São elas que ficam. As lembranças. Tão nossas. Tão únicas, que nos aproximam ao mesmo tempo de um passado feliz e doce e de um futuro incerto e duvidoso.
Quero ser amada em Dublin, andar descalça no túnel de Cherry Blossom, caminhar nos Campos de lavanda, me perder em Nova York.
Quero uma janela enorme para o mar. E amar.
Cercada de cachorros, quero viver, me perder e me reencontar.
Mas as vezes é preciso partir, porque partir é muito mais que me ausentar ou abandonar minhas origens. Minha vida. Meu eu.
Partir é importante, porque assim descubro verdadeiramente se um dia quero voltar.
Partir é importante, mesmo que seja para descobrir que meu lugar é aqui.
E que, ao lado homem que amo, aqui devo ficar.