sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Entre mim e eu

Ontem uma pessoa me elogiou. Disse que eu estava diferentemente bonita. Agradeci, como sempre faço com tudo em minha vida.
E ela ficou me olhando... o que você fez?
Nada, oras. Sou a mesma. De verdade, tirando meu rim  novo, não fiz nada mesmo.
Mas você está diferente...
Talvez você está me enxergando diferente.
Talvez como nunca me observou.
Ou talvez mudei sim, você tem razão. Mas acho que muito das mudanças no meu físico e principalmente na minha alma aconteceram juntamente com as mudanças que ocorreram comigo durante a minha doença.
Durante a minha aceitação.
Não é com qualquer um que posso ter esse tipo de papo abelha, como dizem, mas essa era uma pessoa especial, que sabe escutar, sem cobrar, nem julgar.
E depois de um tempo conversando, rindo, falando bobagem, chorando, nos despedimos.
Voltei para casa e fiquei pensando na nossa deliciosa conversa. Coisa de amiga, de quem nos entende. Coisa de empatia. De alma mesmo.
Passei muito tempo pesando 42 kg. E as pessoas me olhavam torto. Pareciam ter pena de mim. A minha magreza assustava. Eu me sentia um ET. Nada me servia.
Até que transplantei e voltei "ao normal".
E de todo esse processo, essa transformação gigantesca em minha vida, no meu corpo e na minha alma, eu descobri que eu continuava a mesma Carolina.
Só que estava feliz. E saudável.
As aprovações que temos que passar não deveriam depender de ninguém, a não ser de nós mesmos.
Nós é que temos que estar felizes com o nosso eu. Com aquilo que somos. E com o que, em alguns momentos, nos é imposto.
É aquilo que temos e ponto final.
Vivemos em um mundo em que bonito é ter nariz arrebitado, cintura fina, seios fartos.
Sabem de uma coisa?
Bonito é a gente ser a gente. É a gente se olhar no espelho e se aceitar. Gostar do que se ve.
Bonito é a gente entender que as transformações acontecerão. E por mais que lutemos, elas por algum motivo precisam acontecer. E que vão continuar acontecendo.
Entre cicatrizes, fístulas, estrias eu me aceito e me gosto.
Melhorar a auto estima é sempre importante.
Mas que a nossa essência continue a mesma. Guardadinha do lado esquerdo do peito.
Ela é o que nos faz sermos nós mesmos.
Únicos e belos.
Dentro de nós, perfeitos.
Sem photoshop, sem grandes correções.


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