terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Reencontro

Vim tirar o pó do blog. Precisava escrever. Esse momento é único. Só meu. Um momento em que me dedico e me redescubro. Eu e as palavras, apenas. Nada mais.
Mas não queria falar de transplante, hemodiálise e melancolias. Queria escrever sobre amor. Calmo, generoso e intenso na medida como deve ser. Mas é incrível como tudo está interligado. Não tenho como separar fatos e acontecimentos que ocorreram em minha vida.
Desde que voltei a dançar depois de um período turbulento em minha vida, me apaixonei.
Sempre dancei, desde pequena. Do Ballet fui para o Jazz. E já adulta, era tempo de voltar a focar em outras coisas. As prioridades eram outras. Estudos, faculdade e uma surpreendente gravidez maravilhosa no meio de tudo. Uma coisa meio doida, impensada, imatura. As prioridades agora eram outras bem diferentes. Fraldas, mamadeiras, consultas médicas. Minhas e dele. A minha doença renal no auge. Não tinha opção. Nem ânimo.
Mas voltando a falar de amor, descobri tudo ter seu tempo. E eu precisei desse tempo. Meu corpo também precisava. A minha magreza assustava e muitas vezes eu me sentia incapaz. Debilitada, fraca, frágil. O sonho de voltar a dançar e me sentir feliz e bonita por dentro e por fora parecia tão distante. E impossível.
Mas a questão é não desistir e lutar. E principalmente não se intregar. E eu nunca me permiti isso. Inclusive levava minha mala de maquiagens, vestidos e camisolas para o hospital. Poderia até não usar todos os dias, mas sabiam que estavam lá. As minhas coisas, a minha vaidade. Aquilo que sou, que um dia perdi, mas que reencontrei.
Eis que há um tempo atrás resolvi me matricular novamente no Ballet.
Fui até a loja e sai carregada. Sapatilhas, collants, meia calça, saias delicadas e mais um monte de delicadezas que me tornariam uma bailarina. Uma disciplinada bailarina.
Mas roupas em si não bastavam. O Ballet exige muito mais que saias e sapatilhas. A dança exige muito mais que isso.
Exige postura, treino, disciplina, concentração. Dedicação. E amor.
E eu tinha tudo isso. Ainda tenho. A cada dia mais.
E a paixão se transformou em amor. Um amor difícil de explicar. A dança nos une, nos ensina e nos faz acreditar que somos capazes.
Ponta esticada, joelhos retos, mãos e braços leves. Olhar profundo. Dores. Resistência. E delicadeza.
A dança não trabalha só o corpo. Mas a alma. O eu interior. A nossa auto estima. A vontade de ir além. De seguir em frente. E de ultrapassar todos os limites. Quase impossíveis no início.
Mas com amor, a gente se resolve. Se entende. E se reencontra.
Basta uma boa música, leveza no olhar e firmeza na ponta dos pés.



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